sexta-feira, setembro 21, 2012


Estou a pensar que é muito triste ver a nossa elite, dita culta e bem pensante, ser manipulada por demagogias primárias, jornalistas intelectualmente pouco sérios em busca do escândalo sensacionalista e irresponsável que rende audiências fáceis e empresários encostados a um garantismo do Estado que não querem perder.

Estou também a pensar que o povo livre, sensato, poucas vezes desiludiu nas situações mais críticas, já Ela, aquela nossa douta inteligentia - perenemente submissa ao jugo de um “afrancesadismo” balofo, gasto e bafiento -, tantas vezes nos tem atirado para o cadafalso, por (ir)responsabilidade própria e em nome de um “consensualismo” de classe, acrítico, do tipo “Maria vai com as mesmas”, a troco de uns cobres, alguma dela; e de um pseudo-reconhecimento e promoção por parte dos seus pares, alguma outra. Toda Ela uniformemente pensante, não vá alguém confundi-la com o povo, que ela considera de brandos costumes, tão inculto, tão apático, tão pouco queimador das montras do consumismo capitalista (curiosamente erigido agora pelos que se dizem de esquerda como Salvador de pátrias, pasme-se!).

Estou a pensar que por influência Dela vimos falhando sistematicamente os nossos encontros com a História, rejeitando, em nome do imediatismo e do facilitismo - camuflados de profunda e comiserada preocupação pelo “coitado” do povo, mas assegurando, in fine, apenas o bem-estar Dela – os passos mais arrojados e exigentes.

Estou a pensar que é triste ver estes nossos expoentes submissos ao comentador superficial, à parangona tendenciosa, à comparação com o que não é comparável, sem, ao menos, uma e outra vez, se dignarem a uma leitura, crítica mas intelectualmente honesta, nas fontes, daquilo que ouviram terceiros reproduzir.

Estou a pensar como é triste ver estes nossos “cultos” verbalizarem incauta, irresponsável e incendiariamente a sua súbita descrença no sistema partidário, sem apresentar qualquer alternativa que vele pela democracia.

Por isso, espero e confio que o povo livre, sensato e clarividente, não arrebanhado em autocarros orquestrados, com a serenidade da sua sabedoria amadurecida, saiba triunfar sobre a histeria desta Elite com fome consumista de imediatismo ilusório, defensora do interesse próprio e manipulada pelo interesse alheio, que, inconsequente, vibra diante de um vislumbre de possibilidade de derrubar um governo democraticamente eleito por maioria, sem medir consequências e sem o mínimo respeito pelo sacrifício alheio.

Confio que esse povo de branda constância e alto sentido da responsabilidade saiba defender um sistema partidário, imperfeito, mas ainda democrático.

Confio que esse povo de serenidade inteligente consiga defender com unhas e dentes o pesado e penoso sacrifício que por sentido de responsabilidade, honradez e imperiosidade tem vindo a suportar, não permitindo que, uma vez mais, as doutas elites deitem tudo a perder.

Se assim não for, receio - e mais uma vez me entristeço - que o país volte a falhar mais uma oportunidade de viragem na sua História. Não por defeito do povo, mas por insensatez daqueles que, de vistas curtas, sem olhar a meios, escolhem sistematicamente os piores pontos de acumulação da História para acautelarem fins próprios, desta feita, em plena crise de cultura e sociedade, em plena guerra económica e na iminência de uma desestabilização global.

Sou democrata, gosto da discussão, gosto da divergência, respeito, compreendo e aceito as opiniões contrárias e o direito à indignação e à revolta, aprecio também as dissidências saudáveis dentro de grupos organizados mas não uniformes, encantam-me as vozes dissonantes e mais ainda as que veiculam auto-críticas (talvez o verdadeiro grande charme, ímpar, do PSD). Em suma, respeito o outro mesmo quando o considero burro, burro mesmo! Mas, precisamente por isso, entristece-me profundamente a carneirada acrítica, cinzenta e parda e perigosamente uniforme em que se tornou a massa “culta” que se diz opositora ao governo, tão arrogantemente incapaz de ver além do seu umbigo, tão incapaz de temperança, tão incapaz de auto-critica, tão auto-comiserada, tão clubista, tão alheada do verdadeiro interesse do país e do povo e … tão “conservadora”, ainda que – e sobretudo –se diga ou se julgue pensante e se veja como revolucionária.